[Evento] Termina o 7ºSBPJor

Por Beatriz Amendola | bia.amendola@gmail.com

O 7º SBPJor chegou ao fim nesta tarde de sexta-feira. Foram três dias de palestras e discussões enriquecedoras para a comunidade científica e acadêmica nacional. Seguindo o tema deste ano, “A pesquisa em jornalismo em um mundo em transformação”, as reflexões concentraram-se nos impactos das transformações do mundo do século XXI na prática da atividade jornalística.

Assuntos como novas ferramentas da internet, ensino em jornalismo e multimidialidade destacaram-se no evento, sediado, neste ano, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

[Diretoria] Assembleia de posse da nova diretoria

Por Rafael Aloi | rafael.ca.paschoal@gmail.com

Tomou pose hoje a nova diretoria da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo para o biênio 2009/2011. Confira quem são os membros:

[Sessões] Comunicações livres 13 – O discurso das mídias: ciência e feminilidade na imprensa

Por Rafael Ciscati

O jornalismo científico e a imagem da mulher nas revistas brasileiras – em torno desses dois eixos, giraram as discussões desta tarde, durante a Sessão Comunicações Livres 13. Sob a mediação de Antonio Marcos Pereira Brotas, da UFBA, os pesquisadores apresentaram resultados e discutiram o andamento de seus trabalhos, baseados em metodologias calcadas na análise de discurso.

Saber que o fazer científico não é isento – é o que orienta a investigação de Lia Luz, ao analisar “As vozes no discurso jornalístico das matérias de saúde de Veja e Time”. Para ela, a imprensa deveria expor os interesses econômicos imbricados no setor de saúde, tema jamais abordado. Nas publicações, ao contrário, predominam matérias cujo intuito é divulgar novos medicamentos. Entre janeiro e julho de 2005, 30% das matérias de Veja seguiram essa orientação.A escolha das fontes reflete essa tendência – 60% delas correspondem a laboratórios farmacêuticos.

As pautas de Time, por seu turno, não incluem novidades da indústria-  são privilegiadas fontes acadêmicas, ligadas ao ambiente universitário. No entanto, ambas deixam de lado questões essenciais: a contextualização, os jogos políticos. Sem isso, diz ela, tem-se um “jornalismo meio travestido de publicidade”.

Ciência e tecnologia: uma abordagem não científica da grande mídia, de Luciana Rosa, faz uma comparação entre as maiores revistas de informação em circulação no Brasil (ISTOÉ, Veja, Época e Carta Capital), entre outubro de 2008 e março de 2009. O objetivo: traçar um diagnóstico da cobertura de ciência e tecnologia nesses veículos.

Segundo ela, a imprensa busca aproximar-se do leitor por meio de um vocabulário coloquial, e da apresentação simplista dos temas: “Raramente você vê em uma matéria a explicação da metodologia de pesquisa”.

 Concordando com Luz, Rosa enfatiza o predomínio do mercado – trabalha-se muito com a industria farmacêutica, sem que se invista na construção de um conhecimento.

 Gabrielle Vivian Bittelbrun, por sua vez, busca evidenciar qual a imagem da mulher construída pela Revista Claudia. Seu trabalho, A Contemporaneidade e a mulher brasileira em Claudia: o papel da beleza, demonstra que o jornalismo praticado pela revista é “um jornalismo de direcionamento – sugere perfis de como a mulher deve ser.” Segundo ela, Claudia acompanhou as modificações sofridas  pela mulher ao longo dos anos: a liberalização dos hábitos sexuais e o ingresso crescente de mulheres no mercado de trabalho. Atualmente, ao lado das capas ousadas, nas quais sempre figura alguma matéria relacionada a sexo, a revista dá dicas de como ser bem-sucedida no mercado de trabalho. Mas sofre uma crise de identidade: seu slogan atual (“Independente sem deixar de ser mulher”) demonstra que ainda persiste certo tradicionalismo, como o apreço pelos cuidados com a aparência  e a valorização da família patriarcal.

 Mas qual seria o papel do jornalista no meio científico? O jornalista como mediador na cultura científica, de Antonio Marcos Pereira Brotas, defende que o problema não é a pauta, mas o enquadramento: “Não vejo problema nenhum em ter um remédio novo como pauta. Mas o jornalismo não é só isso” – ele deve questionar, discutir, contextualizar, de modo a entender quais os jogos políticos e econômicos em questão.

A comunicação na área de saúde para favorecer o bem-estar da população- é esse o plano de fundo de  O enquadramento do câncer de mama no jornalismo e na ciência,  de Sônia Regina Schena Bertol.  A pesquisadora analisa artigos de publicações especializadas em ciência, contrapondo-os a artigos publicados na mídia “leiga”. Ambos os meios orientam-se pelo conceito de novidade , examinando os dados  de maneira meticulosa antes de expô-los  ao público. A diferença reside no fato de que,no meio científico, esse exame baseia-se em experimentos e na aprovação pelos pares. No jornalismo, diferentemente, a informação é notícia desde que corresponda a algo novo, inusual. São portanto, discursos distintos, que por vezes se distanciam. 

[Sessões] Comunicações Livres 10 – Profissão: Jornalista e Blogueiro

Por Lucas Tófoli Lopes | lutofoli@gmail.com

Os primeiros blogs foram criados no fim dos anos 90. Geralmente, eram feitos por pessoas que entendiam de linguagem de programação e tratavam de tecnologia. Em 2002, surgiu o primeiro blog jornalístico brasileiro, o ‘No Mínimo Weblog’. A partir daí, até 2005, surgiram diversos blogs das equipes das principais redações do país, como os blogs do Globo, da Folha, Estado e do jornalista Ricardo Noblat.

Essa aula sobre weblogging e jornalismo aconteceu na Sessão Comunicações Livres 10, na tarde do último dia do 7ºSBPJor. Leonardo Feltrin Foletto, com sua pesquisa “Apontamentos sobre edição e redação no blog jornalístico” fez uma panorama geral sobre a blogagem jornalística.

Foletto analisou 8 blog jornalísticos brasileiros e os segmentou em 3 tipos:

Casos e cases

Na mesma sala, 3 exemplos bem distintos da utilização dos blogs no Brasil. Emerson Urizzi Cervi, coordenador da sala, apresentou “A cobertura jornalística de blogs políticos nas eleições para a Prefeitura Municipal de Curitiba de 2008”. O pesquisador acompanhou 3 blogs jornalísticos de Curitiba e a repercussão das eleições nos conteúdos. Os blogs eram: Caixa Zero, atualizado por Rogério Galindo; Política em Debate, do jornal O Estado, um impresso tradicional; e o blog do Zé Beto, da publicação Jornale.

Sabrina Franzoni falou sobre o blog da Petrobrás e a inversão na relação jornalista-fonte na sua apresentação “Acontecimento: a inversão na relação entre jornalista e fonte de informação evidenciada no blog da Petrobrás”.

O doutorando da federal da Bahia, Gonzalo Prudkin, apresentou “Periodistas em la Blogosfera: formación de uma red social profesional o mera endogenia? Um análisis de lãs relaciones entre blogs periodísticos brasileiros de fútbol durante La Copa de lãs Confederaciones 2009”. Ele analisou diversos blogs esportivos durante a Copa das Confederações de 2009. Alguns dos endereços visitados são ESPN Brasil, Lancenet, Sport TV, Zero Hora e Jornal Placar. Foram 253 links observados e para onde eles remetiam. Gonzalo queria saber se era possível a formação de uma rede social profissional entre jornalistas esportivos – tese que não foi comprovada, pois maior parte dos links não direcionavam para sites externos.

Colaboração

Com a primeira apresentação da sessão, a aluna de graduação Sarah Costa Schmidt, “Wikinotícias: mídia convencional como fonte determinante para um jornalismo dito colaborativo”. Sarah tem estudado o site Wikinotícias, uma forma colaborativa de publicação de notícias.

[Sessões] Comunicações livres 9 – Jornalismo: você lembra disso?

Por Felipe Marques

O que significa ser um país “desenvolvido”

Dinheiro é tudo?

Conferência: A memória do desenvolvimento socioeconômico – Veja e Carta Capital – 1996 à 1998

Desenvolvimento socioeconômico é um conceito cheio de nuances – por exemplo, desenvolver-se como sinônimo de crescimento econômico. Portanto, diferentes publicações constroem o conceito de desenvolvimento econômico de maneiras a cumprir sua própria agenda – escolhendo o que precisa ou não ser lembrado para dizer que um país é ou não desenvolvido. Uma anedota para esclarecer a amplitude dessa questão foi contada por Maria Lucia Jacobini, no SBPJor. Ela lembra de uma matéria que dizia  que o Brasil não chegava aos pés do desenvolvimento na Suiça por não ter tantos celulares quanto o país – hoje o Brasil tem, mas será que ele é desenvolvido?

As conclusões, tiradas da análise das revistas Veja e Carta Capital é que se entende o desenvolvimento socioeconômico com crescimento e modernização. O fim da inflação, as recomendações do FMI, o consumo são termos atrelados à essa discussão
  
História e Jornalismo: um casal nem sempre feliz

História e Jornalismo: união conturbada

 
 
Conferência: Fronteiras entre jornalismo e história: por uma reflexão sobre as relações entre os dois campos em evolução

O casal jornalismo e história vive um relacionamento de “gata e rato”. Na apresentação de Monica Celestino, houve uma verdadeira terapia de casal sobre as relações dos dois campos – o que eles têm em comum, o que é irreconciliável, os preconceitos e o que um par pode ensinar ao outro.

Monica cita como “filhos” dessa relação o surgimento de obras de ficção com fundo histórico, de obras históricas trabalhadas por jornalistas – como 1808 de Laurentino Gomes (sucesso de venda e execrado por muitos círculos de historiadores) – e de publicações que trabalham a história, como a “Aventuras na História” da Editora Abril.

Apesar desses símbolos de união, são muitos as reservas dos profissionais de um campo em relação ao outro – especialmente por parte de historiadores, que criticam a falta de rigor científico na hora de elaborar reportagens.

Divergências à parte, existem entre a história e o jornalismo coisas que os unam como um bom casal, especialmente com o surgimento da “Nova história”, corrente de pensamento do início do século 20. Essa nova escola de pensamento passa a admitir o fato histórico – assim como o fato jornalístico – como uma construção, algo intimamente ligado às idéias e aos objetivos de quem escreve. É a velha discussão entre objetividade e subjetividade – cadeira cativa nas escolas de jornalismo e história. Outra característica é o uso de novas fontes históricas, mais próximas das jornalísticas, entre elas a imprensa e relatos orais. A “Nova História” permite, como é praxe no jornalismo, que a história do cotidiano de um indivíduo possa ser aplicada para a história da sociedade à que ele pertence
  
Comemorar a Era Vargas – o que a mídia quer com isso?

“Toda comemoração pública é um ato político”


 
Conferência: Jornalismo comemorativo: fatos históricos da Era Vargas relidos por Veja de 1968 à 2008

De janeiro à Junho, as revistas Época, Veja Istoé e Carta Capital produziram juntas 3084 matérias. Dessas, 70% das matérias faziam remissão à um fato histórico, acontecido antes de 1995.

A discussão sobre o papel do passado no jornalismo – atividade que se destaca pela atenção ao presente – foi apresentada por Eliza Casadei, que discutiu o jornalismo comemorativo, direcionado à Era Vargas. Eliza analisou matérias que retomavam a Era Vargas na revista Veja, de 1968 à 2008.

“Toda comemoração pública é um ato político” – aponta Eliza. A época em que é publicada afeta diretamente a abordagem da matéria. Antes da ditadura, as matérias comemorativas sobre a Era Vargas, em geral, traziam uma reencenação do evento – com tons dramáticos. Durante o Regime Militar, as matérias enfatizavam o fim do Estado Novo, de forma a fazer crítica ao regime. Nesse recorte, a memória tem um papel de moldar o futuro.
 
“Binômio”, um jornal 99% independente (e com 1% de ligações perigosas)

"Binômio" - humor nem sempre é transparente

 
Conferência: Binômio: humor e política em um jornal quase independente

“O Binômio energia e transportes”. O slogan de Juscelino Kubitchek, que o elegeu ao governo de Minas Gerais, prometia levar o estado à uma nova era de progresso.  Se a eficácia real da frase é discutível, um dos seus resultados mais notáveis foi a criação do jornal “Binômio” – que dizia trazer em suas páginas o verdadeiro “binômio de JK: sombra e água fresca.

Alexandre Nonato – que apresenta na SBJor trabalho sobre a publicação –  chegou ao Binômio acidentalmente. E achou que seria uma boa idéia resgatar aquilo que a extinta publicação, pouco conhecida fora de Minas Gerais, representou para o jornalismo brasileiro. O jornal se dizia um órgão quase independente” . José Maria Rabelo, um dos fundadores do jornal dizia “Temos 99% de independecia e 1% de ligações suspeitas”. Entre os colaboradores do jornal, destacam-se Ziraldo, Fernando Drummond (autor de Hilda Furacão) e Millôr Fernandes.

Surgido em 1952 e extinto em 1964, o Binômio é um jornal alternativo de caráter fortemente político – uma das principais controversas era a afiliação do jornal à UDN.

O “Binômio” é um dos precursores da Imprensa de resistência, aquela que no Regime Militar, usará a ironia e o humor para crítica política. “Binômio” é anterior ao Regime – e por isso é pai de publicações como o “Pasquim” e o “Pif Paf”. Jornais de humor e ironia não precisam estar atrelados a períodos de repressão política – a publicação surgiu numa época democrática.

Apesar disso, seu destino foi resultado da repressão da ditadura que fechou o jornal.
Entre os episódios notáveis, estão obras de humor e reportagens investigativas. “Juscelino foi a Araxé e levou Rolla” (o Rolla era um investidor amigo de JK – que não ficou nada feliz com o incidente) foi uma manchete histórica. Numa reportagem sobre tráfico de pessoas, um dos repórteres conseguiu um recibo da compra de um casal – “o traficante falava como se vendesse um papagaio”.

[Sessões] Coordenada 12 – O acontecimento e suas faces

Por Beatriz Amendola

De um lado, o acontecimento. De outro, o jornalismo. A relação entre esses dois elementos, com suas variantes histórico-sociais, pautou os debates da Sessão Coordenada 12, Acontecimento Jornalístico – 2. Coordenada por Virginia Pradelina da Silveira Fonseca, ela faz parte da pesquisa Tecer: jornalismo e acontecimento, assim como a sessão Acontecimento Jornalístico – 1, ocorrida ontem.

 

Angela Zamin abriu a sessão com o texto Os jornais e o acontecimento Obama, escrito em parceria com Beatriz Marocco e Felipe Boff. Nele, o trio discutiu a constituição da figura jornalística de Barack Obama, atual presidente dos EUA, em 18 jornais da América Latina, América do Norte e Europa.obama

Características pessoais, contexto, referências históricas, projeção e eleição foram as múltiplas faces as quais os jornais se referiram na compreensão do acontecimento. Dessa forma, eles compõem os vértices de um “poliedro de integibilidade” – conceito elaborado por Michel Foucault.

 

Bruno Souza Leal apresentou o artigo Acontecimentos programados e acidentais na cobertura sobre homofobia. Ele foi baseado nos resultados da pesquisa “Mídia e Homofobia” , realizada em 2008 a pedido do Ministério da Saúde. O autor discutiu o desafio da cobertura jornalística do tema, devido à complexa questão da sexualidade no Brasil, e analisou os acontecimentos programados e acidentais nas noticias – segundo sua constatação, estes últimos estão presentes em um numero muito superior do que aqueles.

 

mascara Daisi Vogel e Gislene Silva, autoras de O acontecimento e a fic ção no jornalismo, exploraram os modos de experiência da verdade. A partir da  seção Máscara da revista Bravo!, na qual o jornalista Armando Antenore entrevista personagens teatrais, elas analisam como objetos do universo da arte ingressam na cobertura jornalística e criam novas noções de veracidade.

 

Por fim, a coordenadora da sessão apresentou o trabalho O acontecimento como noticia: do conceito á pratica no jornalismo corporativo. Nele, ela analisou a concepção de acontecimento nas grandes organizações: é aquele fato relevante para ser noticiado – porém os critérios para essa definição varia de acordo com a organização e os critérios subjetivos do próprio jornalista.

[Sessões] Coordenada 10 – Narradores e narrativas: Jornalismo na contemporaneidade

Por Rafael Aloi

A sessão coordenada 10 pretendeu estudar e refletir a respeito do chamado jornalismo literário. Os trabalhos apresentados evidenciam que cada vez mais o jornalismo vem se apropriando de elementos da narrativa, da literatura na hora de construir seu discurso.

Monica Martinez com seu trabalho “Narrativas de viagem: escritos autorais que transcendem o tempo

"Na Natureza Selvagem", narrativa de viagem que foi transformada em filme.

e o espaço” explorou as narrativas de viagem, que são textos extremamente autorais, e vem sendo cada vez mais comum através das redes sociais que permitem que a s pessoas digam onde estão, e o que estão fazendo o tempo todo. As narrativas de viagem podem ser escritas por diversos tipos de pessoa como exploradores (Pero Vaz de Caminha), cientistas (Darwin), jornalistas e revolucionários (Che Guevara). Esses textos têm grande apelo cinematográfico e são muitas vezes incorporados por Hollywood facilmente.

As narrativas de viagem podem ter três classificações diferentes: ficcionais; não-ficcionais, que são escritas a partir de fatos reais, embora os autores possam usar recursos literários para ser mais envolventes; e mistas, produtos de ficção inspirados em fatos reais.Essas narrativas servem como agentes de transformação, uma vez que elas promovem o encontro de realidades e visões de mundo diferentes.

Alice Baroni escreveu um artigo intitulado Jornalismo (não) retórico? Um estudo de caso sobre o Abusado”, com base no romance-reportagem de Caco Barcellos. Ela diz que o jornalismo diário, convencional é essencialmente retórico, e te orienta o público para certo discurso, um conceito uma verdade, como por exemplo, no caso real do traficante Márcio Amaro de Oliveira, a imprensa da época o mostrava como um criminoso, um assassino. O livro Abusado não se fecha em uma definição para o mesmo, e possui um jornalismo não retórico, e que nos faz pensar sobre as questões mostradas, ao invés de simplesmente defini-las.

David Coimbra, colunista do Zero Hora

Eduardo Ritter em seu estudo “Jornalismo e literatura: a comunicação como cimento social nas crônicas de David Coimbra” apresentou textos do editor de esportes do jornal Zero Hora, que escreve sobre a tríade futebol, cerveja e mulheres. Esse gênero de texto jornalístico é baseado na captação de momentos da realidade, da vida ordinária. Porém em outros países  tem significados diferentes, na Espanha, por exemplo, todo texto jornalístico com comentários é considerado uma crônica.

“Os diversos Brasileiros em revista”, texto apresentado por Marta Regina Maia discutiu a revista Brasileiros, que se propõe a romper com a tradicional cobertura do eixo Rio-São Paulo-Brasília que é amplamente buscado pelos meios de comunicação mais tradicionais. A publicação consegue isso em partes, pois ainda tem muitas matérias presas a esse eixo, uma das explicações para isso seria a limitação financeira que a revista tem, mesmo assim a revista, comparada a outras, consegue apresentar, inclusive nas capas, Espírito Santo, Piauí, Pará. Marta critica a revista no sentido que ocorre uma falta de contexto nas reportagens mais humanizadas que ela apresentada, mas destaca como ponto positivo, que os textos são mais perceptivos do que intelectivos.

Mateus Yuri Passos analisou as diferenças entre o texto jornalístico de pirâmide, mais convencional, e o texto do jornalismo literário. O primeiro modelo possui uma estética jornalística de origem americana, baseado na estrutura do lead e da pirâmide invertida. Acredita-se que esse modelo é mais objetivo e polifônico e irrefutável. Já o jornalismo literário não tem estrutura fixa, é na realidade mais polifônico que o convencional, pois não hierarquiza as fontes, e também é mais focado na percepção.

[Sessões] Comunicações livres 7 – O Jornalismo e seu leitor

Por Lucas Tófoli

O que seria do jornalismo sem o seu leitor? E qual o papel dele no jornalismo atual? Essa foi a discussão da sessão Comunicações Livres 07, na manhã de sexta-feira, último dia do 7ºSBPJor

Todos os trabalhos apresentados na sala tratavam, de alguma forma, a questão do leitor. E as discussões esquentaram: “Que tipo de redação vou ensinar aos meus alunos pensando que o jornal mais vendido do Brasil é o SuperNotícia [jornal sensacionalista mineiro]?” Levantou uma das expectadoras da sala. “Quando trabalhei no Agora, escrevia para um taxista. Essa imagem ficou muito forte na minha cabeça”, disse outra participante.

Leitor que lê

Essas questões foram levantadas na apresentação de Rafael Duarte Oliveira Venancio, com a apresentação “Jornalismo popularesco e a massa como audiência: reflexões na pragmática do leitor-modelo”. O mestrando da ECA-USP tem analisado as primeiras páginas de quatro Jornais: Agora, Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde e Estado de S. Paulo. O principal objeto de pesquisa de Rafael são os jornais popularescos e o leitor-imaginário por trás deles. Do que observou, disse que 90% do jornal Agora é constituído de matérias de microeconomia, esportes e violência.  Nas capas, as chamadas não falam de dinheiro, mas sim de ‘grana’, de ‘sua grana’, no que afeta diretamente o bolso do leitor.

Outra pesquisa que trata do leitor no seu ato de leitura é “O leitor (totalmente) imaginário do jornalismo infantil”, de Thaís Helena Furtado. A professora da Unisinos analisou a seção “Para seu filho ler”, do jornal gaúcho Zero Hora.

Leitor que fala

A pesquisa de Laura Strelow Storch envolve 2000 comentários em 3 grandes portais jornalísticos, ouvindo – ou melhor, lendo – o que os leitores têm a dizer. “Através dos fragmentos, pela leitura, eu sou capaz de aprender a aprender”, disse a pesquisadora em sua apresentação. Os comentários fornecem novas fontes para as matérias, correções e até sugestões editoriais, porém, nem sempre são aproveitados por jornalistas ou editores.

Numa linha parecida, as professoras da Universidade de Santa Cruz do Sul, Fabiana Piccinin e Ângela Felippi, coordenadora da sessão, apresentaram “Convocações (estratégicas) ao leitor: notas sobre a complexificação do jornalismo contemporâneo no Grupo Gazeta do Sul”, sobre como o jornal Gazeta do Sul ‘convoca’ seus leitores a participarem do jornal.

Por fim, Graciela Natansohn com sua pesquisa “Revistas online, redes sociais e leitura”, que mostra a ‘revista’ como um conceito que preenche não só as bancas de jornal  mas também diversos espaços virtuais, de sites a redes sociais.

[Sessões] Coordenada 8 – Ensino do Jornalismo digital

Por Nathália Monteiro

A Sessão Coordenada 08 tratou do ensino do jornalismo digital em tempos de convergência. Foram três palestras relacionadas entre si. A ideia era estudar os cursos de jornalismo mais antigos de diferentes locais do Brasil e identificar as particularidades da incorporação de mídias digitais nas respectivas grades curriculares. Os palestrantes abordaram universidades dos estados de Santa Catarina, São Paulo e Paraná.

 O ensino em tempos de convergência: o caso do jornalismo da UFSC

Elias Machado, Francisco Karam e Tattiana Teixeira

Machado aborda as reformas curriculares pelas quais passou o curso de jornalismo e mostra a incorporação de disciplinas relacionadas ao jornalismo digital ao longo do tempo. A inclusão de tais matérias na grade curricular começou em 1996, com ‘Editoração Eletrônica’ e ‘Introdução à Informática’.

O pesquisador define o curso catarinense como ‘atualizado’, ou seja, com um perfil de formação tradicional que acrescentou matérias teóricas e/ou práticas acerca do jornalismo digital.

 O ensino do jornalismo digital: conteúdos curriculares e perfis profissionais

Elizabeth Saad Corrêa, Lia Raquel L. Almeida

A professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Elizabeth Saad Corrêa expôs os resultados da pesquisa feita em São Paulo. As faculdades analisadas deveriam ser a Faculdade Cásper Líbero, a UNIFAM e UNIP. Ironicamente, a ECA não seria objeto de pesquisa nesse primeiro momento, mas a proximidade da faculdade em relação aos pesquisadores fez com que ela se tornasse prioridade.

A última reforma curricular radical realizada no curso de jornalismo da ECA aconteceu entre os anos de 1986 e 1987. Segundo Corrêa, o curso é “tradicional e procura se adaptar”. Discute-se muito no Departamento de Jornalismo e Editoração a respeito do que é o ensino do ciberjornalismo e como implementá-lo na USP, mas pouco se faz. As técnicas e os conceitos atuais do jornalismo são aplicados paralelamente ao curso tradicional, e não integrados a eles.

Diante disso, os professores exploram as vontades e as necessidades de seus alunos, que já chegam à universidade com expertise em relação ao novo mundo da digitalidade.

 O ensino do jornalismo digital e as práticas de convergência: análise de disciplinas e formação docente

Adriana Amaral, Claudia Quadros e Kati Eliana Caetano

Adriana Amaral deu continuidade à exposição dos resultados da pesquisa e contou o que descobriu em três universidades curitibanas: PUC-PR, UFPR e UTP. O estudo concluiu que as escolas devem ter muita cautela na hora de atualizar seus currículos.

Comparando os currículos das três faculdades, tem-se que uma delas foca nos aspectos teóricos do jornalismo digital, outro, os práticos e a última apresenta um equilíbrio entre os extremos. Por motivos éticos, os pesquisadores não identificaram quais eram as instituições.

[Sessões] Coordenada 7 – As narrativas jornalísticas

Por Raissa Pascoal | raissapascoal@gmail.com

A conversa sobre as narrativas e as representações que elas carregam gerou uma longa discussão entre os pesquisadores da Sessão Coordenada 7 – “Narrativas Jornalísticas: dos contratos de comunicação ao paradoxo da incomunicabilidade e do não dito”, coordenada por José Luiz Aidar Prado. Os integrantes da mesa só interromperam a discussão por conta do horário excedido.

 Luiz G. Prado, na Universidade de Brasília (UnB), apresentou o artigo “Narrativas: representação, instituição ou experimentação da realidade?”. A proposta era questionar o que se chama de narrativas jornalísticas e quais os modos de construí-las.

 Prado destacou três formas de narrativas: como representação, como instituinte da sociedade e como forma de experiência da realidade.

 1-       Como representação

Nesta classificação de narrativa, o professor trabalha a narrativa como “histórias que representam a realidade, as relações sociais”. Aqui, Serge Moscovici, psicólogo romeno, é citado para falar das representações como sistemas de valores, idéias e práticas, que nos permitem classificar, nomear e estabelecer uma ordem ao mundo.

  As narrativas são a projeção virtual do mundo pelo discurso, através da linguagem. Prado usa o termo “empalavrar” para explicar que narramos em função de “estratégias comunicativas”. A narrativa tem sentido de uso e que realiza o efeito de mudança de estado. Essa intenção é atingida pelo jogo da linguagem. Prado exemplifica com as histórias contadas por uma mãe ao filho. O efeito pretendido é apaziguar a criança, fazê-la entrar no estado de sono.

 2- Como instituinte da sociedade

As narrativas, nesta óptica, não representam nada, apenas instituem o real. Enquanto narramos, construímos o mundo. Prado cita Cornelius Castoriadis, expoente da filosofia francesa, que diz que o imaginário não é imagem de nada, não é a representação, mas aquilo que gera a realidade. Esta não é apenas física, mas também de tudo que é simbólico.

 O professor português João Maria Mendes, também citado por Prado, diz que “a narrativa, mais que a linguagem, é o instrumento fundamental da constituição e instituição do mundo para o sujeito e sociedades humanas, e desempenha essa função antes mesmo de sua divisão em narrativa de realidade e narrativa ficcional”. Essa colocação foi criticada, posteriormente, por Mayra Rodrigues Gomes, integrante do grupo. “O problema é que [a narrativa] anteceda a palavra”, disse Mayra. A questão levantada pela pesquisadora é que a própria palavra já é uma narratividade do mundo. O isolamento de campo, ao qual a palavra é submetida, carrega-a de significado além do denotativo.

 3- Como experimentação da realidade

As narrativas nos permitem experienciar o mundo. Hoje, a nossa experiência passa pelo mundo e interage com o senso comum. Prado diz que “as pessoas entram e saem constantemente do fluxo midiático, filtram referenciais da realidade e refazem o senso comum”.

 José Luiz Aidar Prado, coordenador da Sessão, disse que para ele “analisar a narrativa como experiência da realidade, acrescenta muito mais e faz com que a narrativa tenha uma aspecto social mais relevante”.

 Fernando Resende, da Universidade Federal Fluminense (UFF), expôs seu trabalho, fruto de seu doutorado. Com o título “O jornalismo e suas narrativas: as brechas do discurso e as possibilidades do encontro”, Resende problematiza a narrativa como lugar de produção de conhecimento no Jornalismo.

 O pesquisador começou pelo processo de produção da narrativa, tomando a análise do “quem” e do “como”, ou seja, de quem fala e como fala. Ele citou exemplos de narrativas e tentou trazer algumas experiências e análise. A intenção era mostrar a relação do conteúdo com a forma e que o processo de produção jornalística está ligado ao fazer jornalístico.

 Resende levantou pressupostos e hipóteses. Uma delas foi a de Paul Ricoeur, filósofo francês. Um discurso é um lugar onde o acontecimento se configura em sentido, através de processo que gera lacunas ao mesmo tempo em que se nutre dessas faltas. Para Márcia Benetti, o discurso jornalístico não é transparente, ele é pleno de possibilidades de interpretação. Unindo as duas hipóteses, tira-se que o leitor que completa essas lacunas e dá o sentido ao discurso.

 O pesquisador da UFF discorreu sobre as narrativas midiáticas.  Para ele, os estudos da linguagem têm um papel relevante à medida que recupera o que ficou apagado nos estudos da comunicação. Assim, a narrativa pode revelar valores, legitimações, representações e falas.

 Por fim, as narrativas jornalísticas foram apresentadas como possuindo três níveis que devem estar presentes: “o quê”, “quem” e “com”. Os dois últimos níveis representam a forma da narrativa. Já “o quê” representa o conteúdo, importante para pensar o jornalismo. Isso torna o estudo da narrativa relevante para o estudo do Jornalismo.

 Coordenador da Sessão, Aidar apresentou o seu artigo “Dispositivo midiático e modalização convocadora: a construção do ‘a mais’ em revistas segmentadas”. As revistas analisadas foram Men’s Health, Woman’s health e Claudia. Aidar discute sobre o enunciador que narra para que o enunciatário, que espera alguma coisa, evolua para uma situação melhor, consiga o “a mais” em sua vida, que é o ser, o ter, o saber e poder mais na vida.

 Cláudia Lago apresentou o artigo “Nós e o diploma: representações no campo jornalístico”. Cláudia diz que “todos operamos em campos, que são construções conceituais que nós fazemos. São locais marcados pela lógica de disputa”. Para ela, as pessoas lutam para legitimar suas bagagens, suas formas de se colocarem no mundo.

 A pesquisadora cita Pierre Bourdieu, sociólogo francês, que defende o uso cauteloso do que é proposto para o campo jornalístico. Para ele, o campo jornalístico, submetido à lógica de audiência, influencia outros campos, podendo exercer efeitos perversos.

 A principal questão posta por Cláudia Lago, no entanto, é como as pessoas se organizam dentro da situação da queda do diploma. Ela analisou textos postados no Observatório de Imprensa por pessoas que se consideravam jornalistas, jornalistas profissionais com carteirinha, jornalistas profissionais sem carteirinha e outras profissões.

 Os textos exprimem opiniões da maioria que são contra a queda do diploma, mas também de alguns a favor, que, segundo Cláudia, são de outros campos profissionais. A pesquisadora mostrou-se incomodada com o descomprometimento com os fins sociais das empresas e da contradição existente entre isso e o propósito do jornalista. “A empresa é um agente do capital, o jornalista é um paladino da defesa da democracia, no entanto, o jornalista, paladino da defesa da democracia, trabalha na empresa, agente do capital. Há um paradoxo nessas falas”.

 Cláudia Lago também falou sobre o que legitima uma pessoa ser jornalista. Ela acredita nas características inatas, que é a vocação, mas também acredita na necessidade da passagem pela universidade para a formação humanística, espírito crítico e ética.

 Cláudia diz que temos que refletir o Jornalismo no nosso campo acadêmico e refletir sobre os discursos que são colocados, porque as falas são representações que acabam chegando a ato. “Discurso não é só fala, porque discurso também vira ato”.

 João Osvaldo Schiavon Matta, no artigo A Boa Forma e o Orkut: “ecos” narrativos”, trabalha a questão do consumo. Pega de exemplo as revistas impressas que possuem os conteúdos ligados à questão do sucesso, do corpo ideal, como é o caso da Boa Forma. Outro ponto levantado é a legitimação de ações, como dietas, que são legitimadas pelos discursos de celebridades.

 O último artigo apresentado foi de Mayra Rodrigues Gomes, chamado “As representações nas revistas de negócios”. A pesquisadora começa dizendo que o Jornalismo é um grande esboço das relações de poder. Tomando três revistas para realizar o exercício, Época Negócios, Exame e Você S/A, a proposta é analisar todas as representações e o que elas tentam dizer. Como é o caso das vestimentas dos fotografados, o ângulo da foto, o ambiente, entre outros.

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